UM SÍNODO QUE RESPONDE A TODOS. É o da Amazônia que se realizará em Roma em outubro de 2019. São planejados novos caminhos para evangelizar os povos indígenas.

Onde os destinos se cruzam
Onde os destinos se cruzam

A bandeira da largada foi baixada pelo Papa em Puerto Maldonado no Peru no mês de janeiro. A grande corrida que terminará em 2019 com o Sínodo da Amazônia começou. Agora é o momento de refletir, aprofundar, procurar aquelas “soluções corajosas” que pediu Francisco e que a Igreja Amazônica, “a maior paróquia do mundo”, que se expande e atravessa as fronteiras de quatro estados, sabe bem que são necessárias. Os problemas sobre o tapete têm um nome, palavras que tantas postagens indicam abordagens necessárias, respostas para dar. Eles são chamados de “escassez de sacerdotes”, “missas ocasionalmente celebradas em comunidades e sacramentos ocasionalmente administrados” em vastas regiões, “aumento da presença de evangélicos”, “ameaça de destruição da floresta amazônica” e com ela povos indígenas, “violência contra populações nativas”. Muitas bandeiras plantadas ao longo de um caminho onde há uma série de paradas para dar lugar a sacerdotes, bispos e leigos “amazônicos” para discernir experiências, estudar situações, desenvolver soluções positivas.

Os bispos da região sentem a urgência de encontrar soluções “viáveis e práticas” para a falta de sacerdotes para garantir a Eucaristia com certa frequência nas comunidades mais remotas, onde praticamente a missa é celebrada uma vez por ano. A orientação de apostar mais no clero indígena também é comum. A Igreja Amazônica deve ter o rosto das populações amazônicas. Como fazer isso? Edson Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira, um município do estado do Amazonas que faz fronteira com a Colômbia e a Venezuela, aponta quatro pontos de estudo: foco nas vocações sacerdotais nascidas na região, facilitação na preparação de seminaristas; formar povos indígenas para serem eles próprios evangelizadores de suas comunidades e seus povos; instituir ministérios, ritos e bênçãos para as culturas indígenas.

Nem tudo é claro, nem tudo é compreensível para aqueles que não vivem na Amazônia em contato com suas pessoas, mas, por esse motivo, o próximo Sínodo é considerado uma oportunidade imperdível de tentar avançarem tudo o que for necessário. Edson Damian acrescenta algo mais: o Sínodo deve discutir e avaliar a possibilidade de criar um itinerário de formação sacerdotal mais rápido do que o tradicional, com cursos periódicos realizados na comunidade onde os jovens vivem. O motivo, também neste caso, é facilitar a participação daqueles que não têm a possibilidade de financiamento ou tempo para deixar sua região por um longo período de tempo. “Os jovens que cresceram no local sabem melhor do que qualquer outra pessoa a cultura e o estilo de vida dessa comunidade específica, o que certamente ajudaria o enraizamento da mensagem cristã”, diz Edson Damian, que vê uma vantagem considerável sobre “importar alguém de fora, o que precisaria de um período de adaptação, às vezes até longo e difícil”. A formação de um clero local deve vir acompanhada de um caminho educacional, também residencial, para os líderes indígenas que assumem um papel de liderança na evangelização em suas aldeias. Sobre o terceiro ponto, que necessariamente deve encontrar espaço na agenda da reflexão sinodal, Edson Damian assume o passo mais ousado: o de autorizar a liturgia nas línguas locais e eleger nativos casados com funções sacerdotais para toda a comunidade. “A cultura indígena – observa o bispo de São Gabriel da Cachoeira – não contempla o celibato”.

Como prova de que as questões são ouvidas, cabe notar o fato de que a discussão sobre elas tende a se laicizar, ultrapassando os limites dos especialistas e chegando às autoridades indígenas das comunidades católicas locais. Justino Sarmento Rezende, 23 anos de sacerdócio em seus ombros, pertence ao povo Tuyuka. Conta ter lutado para não perder suas raízes indígenas quando aceitou a fé cristã. “Nós acreditamos no mesmo Deus como criador, mas vivemos de maneira diferente, e nossa maneira de viver a fé também é diferente”. Justino Sarmento Rezende espera que “o Sínodo reconheça essas singularidades”. Leonardo Ferraz Penteado, do povo Tukano, coordena o conselho paroquial de Lauaretê, uma vila de São Gabriel da Cachoeira. Ele vê um grande passo adiante o simples fato de fazer parte de um Sínodo focado exclusivamente na Amazônia: “Falar de uma Igreja indígena para os nativos dá muita esperança”.

A agenda sinodal não negligencia a “questão evangélica”, entendida como uma presença cada vez mais ativa de pastores da matriz neopentecostal entre os povos amazônicos. O padre José Albuquerque de Araújo, bispo de Manaus, observa que o forte impulso expansivo pentecostal baseia-se no fato de que “o pastor evangélico tem uma família própria e vive entre os que estão em dificuldade nas situações periféricas em que estão”. “Nós temos que imitá-los neste aspecto”, ele afirma categoricamente, “para ir às pessoas nos lugares onde eles moram. Esperar que eles procurem por nós é um método que não funciona”. E acrescenta: “Dar força e autonomia aos ministros ordenados locais certamente ajudaria nesse processo, tornaria a Igreja mais dinâmica e em saída, como o Papa Francis nos pede”.

Proteção do meio ambiente e dos povos. O futuro Sínodo, de acordo com as autoridades católicas da região, se concentrará na importância da floresta amazônica e da ameaça de destruição, deterioração e desmatamento sobre ela. O dedo acusador destina-se principalmente aos projetos de mineração em contínuo desenvolvimento.

Ivo Poletto, teólogo e ex-secretário da Comissão Pastoral para a Terra, lança um pedido urgente de ajuda em nome da Amazônia. “Os rios, a floresta, o solo, a biodiversidade, os povos estão pedindo ajuda. Eles estão passando pela agressão permanente do que é erroneamente chamado de progresso”. Poletto descreve a atual Amazônia “como uma economia baseada na prática de extração predatória. O resultado é um desequilíbrio do ecossistema onde os povos vivem e uma ameaça à sua própria sobrevivência, à medida que seus territórios são invadidos e as vidas das pessoas violentadas”. Um sínodo que aborda o problema, delimita-o com precisão e se concentra em possíveis soluções teria um peso preponderante, muito mais do que as várias reuniões e conferências que são realizadas periodicamente.

Don Sebastião Lima Duarte, bispo de Viana, no estado do Maranhão, associa a proteção dos povos amazônicos aos conflitos de terra desencadeados na maioria das vezes por falta de delimitação das terras indígenas. Um caso de particular importância é o que ocorre em sua diocese, onde os indígenas Gamela sofrem o ataque de ocupantes ilegais. Outro caso é o do povo Jaminawa Arará, no estado do Acre, que está enfrentando o mesmo problema. O saque e o roubo de recursos naturais, bem como a prática arbitrária da ocupação da terra também são frequentes. “A Igreja”, diz dom Sebastião, “deve intervir promovendo um processo de reorganização dos povos indígenas e dos quilombolas”, como se chamavam os antigos escravos que escaparam refugiados nos quilombos. Em suma, “que permaneça firme do seu lado, na recuperação da terra e na reafirmação de suas culturas”.

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