A GRANDE SEDE. Será discutida em março no Brasil. 170 países representados no Fórum Mundial da Água e 60 chefes de estado que anunciaram presença.

Mais preciosa que o ouro
Mais preciosa que o ouro

Há mais de um ano Brasília tem sido submetido a racionamento de água. O problema com os reservatórios não é exclusividade dos sistemas que abastecem a capital brasileira, na verdade também São Paulo, a maior cidade do país, enfrentou intensa crise e viu o principal manancial de abastecimento da região metropolitana, o Sistema Cantareira, ter menos de 10% de sua capacidade ocupada. No Nordeste, diversos estados sofrem com a falta de água há anos, tanto que, em 2017, comunidades do Ceará e da Bahia saíram às ruas para defender a priorização de abastecimento para a população. E tudo isso num país que tem a maior oferta hídrica individual do mundo.

Para solucionar esse problema, especialistas apontam para duas frentes: a conscientização das pessoas na utilização da água e uma atenção especial, por parte dos políticos, para a questão do tratamento de esgoto. Segundo Ricardo Andrade, diretor executivo de Gestão da Agência Nacional de Águas (ANA), é urgente chamar a atenção do cidadão comum. “Sempre tivemos a sensação de que nós temos muita água, que ela nunca vai acabar e que não temos que nos preocupar com ela. E isso não é verdade. Nós temos essa água, sim. Mas onde tem água não tem gente e onde tem gente não tem água”, afirma. E mais: quando a água chega às pessoas, muitas vezes é mal cuidada, poluída e também desperdiçada. Relatório da ANA de 2017 destaca que a cada 100 litros de água produzidos no Brasil, 37 litros são desperdiçados em média e, em algumas cidades, esse indicador de perda passa de 50%. Por isso, continua Andrade, é necessário fazer com que o tema da água esteja na agenda do dia a dia das pessoas. “Principalmente daquele cidadão comum, que acha que a água nasce na torneira, que para ter água limpa precisa de torneira limpa, que não tem a percepção da importância de cuidar bem da água”, destaca. Paulo Salles, diretor-presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (Adasa), destaca outro ponto: a sociedade precisa estar preparada para viver com menos água. Isso implica, do ponto de vista tecnológico, na aposta em técnicas de reuso. “É um processo educacional que já vem sendo feito e acredito que esses momentos de dificuldade que estamos vivendo estimulam ainda mais nosso empenho no sentido de mudar essa cultura e tornar a população mais bem-educada”, diz Salles.

Ricardo Andrade acrescenta que para resolver o problema não basta só educar a sociedade, mas é necessário também um aumento de financiamento e uma boa governança por parte do Estado na questão do saneamento básico. Dados da ANA mostram como o Brasil está atrasado nesse aspecto: atualmente, só 50% do esgoto sanitário são coletados e, desses, apenas 40% são tratados. “Não adianta oferecer água se não tratar o esgoto, porque o manancial que se tinha para oferecer água perde a qualidade. E aí passa a se ter um problema de quantidade não porque falta água, mas porque falta qualidade”, explica o administrador da ANA. Além disso, Paulo Salles, da Adasa, defende que o Estado busque ou patrocine empresas para encontrar outras fontes de abastecimento, como a dessalinização da água do mar em cidades litorâneas, particularmente no Nordeste brasileiro.

Fórum. Os problemas e as soluções relacionados à água no Brasil e em várias outras regiões do planeta serão aprofundados e debatidos no 8º Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em março, em Brasília. O fórum, realizado a cada três anos, é considerado um dos mais importantes espaços de debate sobre o tema em âmbito mundial e, pela primeira vez, será realizado em um país do Hemisfério Sul. Cerca de 60 chefes de Estado e 40 mil pessoas de mais de 170 países já confirmaram presença – entre políticos e representantes da sociedade civil, de organizações não governamentais e de empresas públicas e privadas. Na programação, estão previstos mais de 200 debates e atividades educativas, informativas e culturais. Além disso, startups que trabalham com assuntos relacionados à água poderão se inscrever e apresentar seus projetos e ideias criativas e sustentáveis para solucionar problemas nas áreas de indústria, cidades e agricultura. Na ocasião, serão escolhidas dez propostas. As startups vencedoras serão premiadas em dinheiro e com mentorias exclusivas com especialistas e investidores. “Precisamos utilizar os recursos, como a água, de maneira mais eficiente e evitar ou reduzir os impactos negativos para o meio ambiente. Isso só é possível com ideias que pensem fora da caixa e ofereçam soluções realmente ecoinovadoras para produtos e processos”, finaliza Ricardo Andrade.

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